quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O Tigor - um anjinho em nossas vidas

O Tigor...



Por um ano e quatro meses tivemos um anjo em nosso lar.



Foi em abril de 2007 que adotamos um gatinho branco, considerado velho pelos padrões da sociedade (05 anos estimados). Estava encalhado fazia um tempo, morando num abrigo de felinos abandonados. Embora fosse lindo, branco, olhos verde-claro da cor de sorvete de pistache, tinha também uma rinotraqueíte persistente.



A nossa idéia era adotar um gato feio, enjeitado, daqueles que ninguém quer. Quando a tia da ONG apresentou para a mãezinha do Tigor aquele gato gostoso e simpático, a primeira reação dela foi dizer:



"Pode ser um mais feio também; não precisa ser esse bonitão!"




Porém, a tia era sábia e escolheu direitinho um gato que encaixasse na nossa única exigência: tinha que ser um bichano que topasse a idéia de ser irmão de dois cães muito mimados. Não precisava gostar deles, mas também não podia haver sofrimento.



"Fica tranquila que esse aí é descolado!" Disse a tia. E assim foi.






A casa foi dividida ao meio por um portão para que os irmãos se conhecessem. O Tigrão provou a fama de descolado balançando só o rabo para ver (e ouvir) os cachorros latirem até ficarem roucos. Ou então, parava na frente do portão e ficava olhando os irmãos enlouquecidos. Dava para ver que estava tirando onda dos pobres cães... Se ganhava um petisco, levava até o portão para comer na frente deles!



Com os pais, o grude foi imediato. Chegávamos em casa de um dia cheio de trabalho, e lá estava ele: subia em nosso colo ou deitava ao nosso lado e ficava nos olhando, apaixonado. Por mais atribulado que fosse o dia, o Tigor estava lá para melhorar tudo. Ronronava, amassava pãozinho, colocava sua delicada patinha no rosto do sortudo da vez. Entrava no chuveiro quando queria tomar banho. Dividia, sem preferência, seu carinho entre o paizinho e a mãezinha. Dormia metade da noite no braço de um, a outra metade no braço de outro.



Não tínhamos nem como agradecer por tanta benção em nossas vidas!



Acontece que o Pai do Céu tem suas formas de nos ensinar...



Cinco meses após a adoção, o Tigor foi diagnosticado com FIV. Doencinha cruel, sem cura, é semelhante à AIDS humana. No caso do Tigrinho, a doença afetou sua boquinha, abrindo úlceras em toda a gengiva. Foi necessário extrair todos os dentes dos caninos para trás. Nosso gatinho corajoso aguentou tudo como um guerreiro.





Passamos a estudar o que havia sobre a doença. Procuramos a medicina veterinária homeopática e alternativa. Rezamos. Houve dias bons e dias ruins para nós.



Para o Tigor, não havia mal tempo. Pegava sol na janela (com protetor solar), dormia embaixo das cobertas com a cabeça no travesseiro, pulava para o lado dos cães e bebia água no pote deles quando eles saíam para passear. Nem dor, nem doença abalaram a convicção desse gatinho de que a vida era boa.



As vezes, olhávamos para ele e pensávamos em quanta fome, sede e dificuldade nosso bebê felino teria passado na rua antes de ser recolhido. Teria apanhado porque sentiu fome e procurou comida? Teria sentido frio e se escondido em algum cantinho enquanto chovia de noite? Esse gatinho amoroso passara os seus primeiros anos sem um carinho na cabeça? A pergunta pior era sempre: quantos outros estão passando por isso agora mesmo?



A paixão do Tigrão por nós era tanta que parou de comer quando viajamos por 1 semana. Foi para a UTI. Só voltou a comer quando botamos a comida pessoalmente na frente dele. Aí comeu que nem um boi, o danado, lambendo os bigodes de satisfação.



Na última semana de julho de 2008, o Tigor teve falência renal, resultado de rins doentes que adquiriu em seus anos de abandono. Lutamos com tudo que havia disponível. Mais uma vez estudamos, buscamos todas as soluções possíveis. Corríamos para a UTI na primeira hora da manhã, no horário do almoço e assim que saíamos do trabalho. Recusamos todos os diagnósticos quando eles nos disseram que não havia mais chance. Ele estava lá, firme e carinhoso quando os exames apontaram níveis incompatíveis com a vida. Aprendemos a aplicar medicação e soro subcutâneo quando a medicina veterinária encerrou seu trabalho.





Trouxemos nosso anjo para casa e tivemos ele por mais 2 dias. Nesse tempo, pudemos agradecer pelo amor e pela alegria que ele nos trouxe.



Nosso anjo se foi de madrugada, dormindo, quentinho em sua cama.



Deixou saudades imensas.




Principalmente, deixou-nos a compreensão de que há muitos e muitos Tigors por aí, felinos ou caninos, passando necessidade e precisando de nós.




Há muito o que ser feito. Nosso trabalho com o projeto "O Time do Tigor" é nossa homenagem ao nosso bebê de olhos pistache, que hoje ilumina e aquece nossas vidas lá do céu.




Pit e Lucas